quarta-feira, 9 de junho de 2010

A quem interessar: Os professores da Rede Municipal de Ensino do Recife estão em greve!

Desde o dia 28 de maio de 2010 que os professores da Rede Municipal de Ensino do Recife, em assembléia do SIMPERE realizada na Praça Tiradentes/ Cais do Apolo, deflagraram greve diante da ausência de uma proposta satisfatória por parte do governo municipal. Nesse mesmo momento, após a decisão da assembléia, saímos em passeata em direção à prefeitura para comunicar a resolução e buscar negociação. Recebemos como resposta que não haveria conversa com professores em greve.

A categoria na assembléia ficou meio dividida, mas a maioria decidiu pela greve. Muitos que votaram contra não deram atenção ao que foi decidido coletivamente, e continuam a dar aula, o que enfraquece o movimento que visa garantir direitos a todos. É uma lástima o quanto o individualismo e o conformismo avançou em nosso meio, apesar das conquistas democráticas.

Fazer greve é uma escolha de muita responsabilidade. Ninguém em sã consciência a deseja pelo simples desejar, a não ser quando se encontra tão estressado que a vê como oportunidade de ajustar as expectativas, buscar soluções, resolver pendências, sendo a última alternativa para que o trabalhador pressione para ser realmente ouvido e levado em conta. Professor consciente do valor de seu trabalho não gosta de fazer greve, porque sabe que o maior prejudicado é o aluno. No entanto, o bom professor também sabe que deve se movimentar, agir e criar situações de luta, porque direitos e benefícios não caem do céu como maná.

Greve tem tom de protesto, indignação, insatisfação. Os professores que não estão em greve, na sua maioria, também estão profundamente insatisfeitos, talvez mais do que os grevistas, porque eles não acreditam [mais] que haja possibilidade de mudança, de vitória. Os não grevistas, na sua maioria, são desesperançados, desencantados com o sistema, com a luta operária, mesmo porque grande parte não se reconhece proletário.

Hoje, dia oito de junho, bloqueamos as duas vias em frente ao prédio da prefeitura. Ficamos um bom tempo lá, criamos um grande transtorno no transito, uns quatro ônibus ficaram retidos e, no final das contas, o secretário Claudio Duarte está viajando, o prefeito João da Costa não recebeu a comissão de negociação, e eles foram recebidos pelo secretário de governo que não resolveu nada, apenas promessa de boca e pressão para que parássemos com a greve. Em certo momento, a PM quis desbloquear uma das vias, mas ficamos lá resistentes. Convocamos a imprensa. Chegaram o Jornal do Commercio e a Folha de Pernambuco. Alguns líderes comunitários e pais de alunos pegaram no microfone para nos apoiar. Ficou prometido que a secretária interina assinaria um acordo em troca de nossa volta às escolas. Como gatos escaldados, votamos por realizar piquetes hoje e amanhã pela manhã nas escolas e assembléia à tarde na Unicap, quando analisaremos o documento já assinado e decidiremos a continuidade ou não da greve.

Éramos apenas uma parcela mínima da categoria. Mas, conscientes de que não bradamos em vão, ou irresponsavelmente. Queremos: melhores condições de trabalho e conseqüentemente de aprendizagem para os alunos, um piso salarial (conforme a lei federal) de 1320 reais, aumento no percentual de titulação com incentivo à formação continuada (especialização 30%, mestrado 40% e doutorado 50%), eleições diretas para diretores e vice-diretores em todas as escolas, além de reforma e construção de escolas.

Será luxo o que reivindicamos? Ou frescura? Como certas pessoas foram capazes de afirmar. Fala-se tanto do valor e importância da educação, mas os professores são anualmente impelidos à greve.

Se quiser realmente acertar na educação, o governo deve buscar se antecipar às necessidades da comunidade escolar. É muito fácil colocar a culpa no professor quando a avaliação da aprendizagem dos alunos vai mal. Agora, vai lá dá aula para uma turma super heterogênea em capacidades e atitudes, difícil de atrair o interesse numa sala apertada, quente, poeirenta e a mercê de barulhos externos, e, às vezes, de maus cheiros de esgoto. Num lugar onde a criança não pode nem se expandir numa brincadeira, pois corre o risco de causar um acidente ou entrar em conflito com alguém por falta de espaço. E o professor se vira em mil para pagar suas contas e ainda buscar um tempinho para criar algo novo num esforço de motivar o interesse daquele aluno disperso.

Essa história toda é conhecida. A situação critica da educação tornou-se banal, ninguém mais liga. Os discursos em prol da educação são muitos, mas cadê soluções? Os professores em greve não têm nenhuma repercussão? Quem se importa? Quem se incomoda? A mídia faz questão de não noticiar. A Copa é mais importante do que os professores, a educação e os palestinos. Professor só é notícia quando agride ou é agredido por aluno.

A educação é como um homem sujo caído num canto de rua. Todo mundo passa indiferente, finge que não vê, e conclui que foi bebida. E se o homem estiver morrendo? Se já estiver morto? E se a educação estiver agonizando? Que iremos fazer? Ou pobre não precisa de professor? Basta-lhe um abrigo escolar e uma babá? Um esconderijo para não ficar aprendendo na rua e incomodando os outros? Não consigo ficar apenas tomando conta de menino; fico extremamente inquieta a buscar soluções quando vejo uma criança com dificuldade de aprendizagem. Mas, uma andorinha só na faz verão, ainda mais numa gaiola insalubre. Precisamos da colaboração de toda a sociedade para socorremos essa educação largada, desfalecida em algum canto qualquer dessa cidade. O futuro será grato por isso. Estado e sociedade estão em dívida com a educação, mais do que isso: com a qualidade de vida desse país.

Zélia Gominho.

08.06.2010

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