sexta-feira, 14 de novembro de 2008

1968

No dia quatro de março eu nasci; há quarenta anos o Brasil era bem diferente do que é hoje; algumas mazelas ainda persistem, a época era pesada para muitos, mas também indiferente para outros. Quando mencionamos 1968 a memória aciona muitas e variadas lembranças – individuais, coletivas; mas, embora seja importante não esquecer, apenas uma parcela da população recorda os trágicos movimentos estudantis; geralmente pessoas que se envolveram, ou que tiveram um familiar presente, mas, principalmente quem acompanhou, apesar da censura, os acontecimentos; quem estudou, ou quem pesquisa o assunto. A ditadura militar torna-se cada vez mais distante no tempo, torna-se passado, portanto, interesse da História.
As águas de março... É pau, é pedra, é o fim do caminho. Estranhas coincidências históricas acontecem no mês de março: em 1945, no dia quatro, no Recife, o estudante Demócrito é morto numa manifestação pela democracia; em 1968, no Rio de Janeiro, o estudante Edson Luis, também é morto num movimento contra a ditadura, no dia 28. No dia quatro de março a esperança da democracia no país, Tancredo Neves, fazia aniversário.
Ontem, dia 13 de novembro de 2008, passei uma tarde interessante ouvindo palestras sobre história e historiografia; considerando os quarenta anos das Barricadas do Desejo; quando estudantes, e não só estudante, manifestaram-se aqui e na Europa contra o seu sistema vigente.
A professora Regina Horta, da Universidade Federal de Minas Gerais, foi muito feliz na sua palestra sobre Cornelius Cartoriadis. Esse filósofo pouco estudado, e muitas vezes pouco apreciado, até por um certo preconceito, pela critica que o autor tece ao materialismo histórico marxista, foi-me apresentado, creio, no mestrado; lembro das minhas tentativas de leitura da obra A Instituição Imaginária da Sociedade, entretanto, foi um texto menor que marcou minha compreensão de história: A Criação Histórica e a Instituição da Sociedade, que fazia parte da coletânea de textos, de vários autores: A Criação Histórica (Porto Alegre: Artes e Ofícios, Ed Ltda, Sec. Municipal de Cultura, 1992). A experiência com esse texto não foi muito fácil; a minha maturidade intelectual ainda não compreendia bem certos conceitos, no entanto, a idéia de que a essência do homem é sua imaginação criadora, e que esta criação nunca está concluída, sendo a imaginação o recurso que dispõem para sempre criar uma nova forma, um novo sentido, ampliou minhas possibilidades reflexivas acerca da escrita história; bem como, me fez entender que a realidade não está dada, mas em construção: a sociedade vive em movimento de auto-alteração, sempre se auto-instituindo, se auto-representando. E, agora, no doutorado, leio Figuras do Pensável. As Encruzilhadas do Labirinto Volume VI (RJ: Civilização Brasileira, 2004), quando percebo que a autonomia, conceito que com o de criação são tão caros a Castoriadis, é uma atitude, e que a democracia na essência é o regime da autolimitação, pois Castoriadis desloca o poder da criação de algo transcendente para o povo.

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