terça-feira, 18 de novembro de 2008

Anos Dourados?!

A escola da minha filha, este ano, não sei porque, foi buscar longe a temática para a confraternização de encerramento do ano letivo: “Anos Dourados”; no tempo da brilhantina. Fiquei pensando... O que isso tem haver com essa geração? Minha filha só tem cinco anos. Eu, por minha vez, nasci no tempo dos Beatles cabeludos, e Elvis Presley retornava aos palcos, iniciando a fase de shows em Las Vegas; isso para citar alguns ícones dessa fase dourada no plano internacional, porque no nacional as estrelas e os estilos musicais eram bem variados.
Vivi a adolescência nos anos 80 e 90; o máximo de brilhantina que alcancei foi o revival promovido pelo filme Grease, com John Travolta e Olívia Newton-John (mesmo assim, na época, não assisti o filme); pela novela Estúpido Cupido; e pela programação hollywoodiana da Sessão da Tarde. Tempos depois veio a mini-série global Anos Dourados e uma novela com a Miriam Rios, que não me recordo o nome. Mas, o que vivenciei com mais intensidade, a ponto de até comprar as meias de lurex, foi a época da novela Dancing Days.
Histórias ambientadas nos anos 40 e 50 são sedutoras e volte e meia retornam. Até pouco tempo, festas com essas temáticas eram muito comuns; depois se passou um pouco para os anos 60 e 70 (a Discoteca), e ainda persiste, principalmente em festas do universo gay; mas os quarentões e as quarentonas de hoje, entre as quais me incluo, buscam recordar sua adolescência, no caso, os anos 80 e 90.
Minha filha, tão geração 2000, adepta de vestes confortáveis e radicais (adora esportes), olhou pro figurino (saia godê armada de tule, vermelha e de bolinhas brancas) e disse “não”. Não há identificação, se ainda fosse um broto de cigarrete e sueter, talvez, ela ainda se interessasse...
Recordar, reviver. Por que? Chega um momento na vida que o presente fica um tédio, e, com algumas exceções, só no passado encontramos algo bom, especialmente, com relação aos prazeres. Mas, porque os Anos Dourados? O figurino e as canções da época são realmente uma atração; mas o período chamado “Anos Dourados” não é apenas música e moda: os avanços científicos e tecnológicos do pós-guerra, o clima de pretensa democracia, as esperanças econômicas, o nacionalismo, a intensa movimentação sócio-cultural, o retorno e a inauguração de eventos mundiais importantes, como a Copa e o Prêmio de Formula I, entre outros, criaram um ambiente propício para mudanças comportamentais. E, para haver mudanças, é necessário aprender fazer diferente do que até o momento era válido, ou permitido, ou indiferente, e esse processo nem sempre é tranqüilo, pelo contrário, expressa conflitos individuais e coletivos de muita importância.
Assim, os Anos Dourados não foram tão brilhantes para quem estava lutando na Coréia, para quem acreditava numa revolução socialista, ou para quem desejava que seu direito de livre expressão e participação política fosse respeitado; como também não foi fácil para quem queria usar uma costa nua, um shortinho, um biquíni, ou uma simples calça comprida e o papai careta dizia ser uma indecência e ameaçava o broto com um grande cinturão.

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