O que diferencia a narrativa Histórica das obras de Literatura, basicamente, mas não exclusivamente, é que a História precisa de documentos para ser escrita. A verdade do acontecido, do vivido, é a busca incessante a que se lançam os historiadores. Atualmente, a variedade de fontes consideradas possíveis documentos históricos é bem mais ampla do que há algum tempo atrás, quando o cientificismo desconsiderava tudo o que pudesse configurar relatividade e incerteza. Trabalhar com fontes diversas e até inesperadas, contudo, requer compreensão teórico-metodológica adequada.
O historiador deve investigar suas fontes com seriedade, o que envolve até recorrer a outras áreas do conhecimento acadêmico para refletir melhor sobre suas fontes. Entretanto, é necessário primeiramente localizar o material a ser pesquisado, o que, comumente, é encontrado nos arquivos da cidade. O grande trabalho e as maiores dificuldades dos pesquisadores - e nesse ponto devemos ampliar, porque não é só historiador que utiliza o acervo de arquivos, centros de estudo e bibliotecas; começa aqui.
Os arquivos nem sempre acompanham às necessidades ou a demanda de pesquisadores; muitas vezes há a impressão, e quase certeza, de que se está realmente dificultando o acesso para que o pesquisador desista. Os horários de atendimento, geralmente, são limitados; as condições de consulta, às vezes, insalubres. Desconforto, demora no atendimento, tempo limitado de consulta, insalubridade, material sem catalogação ou sem microfilmagem, documentos em estado precário... Eis alguns dos problemas que o pesquisador, geralmente, enfrenta nos lugares que abrigam as fontes necessárias para realizar o seu trabalho, que não é simplesmente uma obra de diletantismo pessoal para cumprir exigências acadêmicas afim de obtenção de títulos, e progressões funcionais; mas, especialmente, um serviço ao público, à coletividade, à comunidade na qual estamos inseridos e preocupados.
O trabalho do historiador, embora não seja reconhecido, comporta uma responsabilidade social e política muitas vezes incompreendida pela sociedade como um todo: a História nos ajuda a criar uma imagem dos problemas que ainda nos afligem, dos acontecimentos passados e das pessoas também; nos cria uma identidade; assim também, pode ser material que fundamente a obtenção e a garantia de direitos; estando intimamente relacionada ao emprego da justiça.
Ontem, dia dez de setembro, recebi um e-mail indignado de uma pesquisadora informando que o anexo da rua Imperial, no Recife, do Arquivo Público do Estado de Pernambuco está interditado por tempo indeterminado. Salvaguardando-se o fato, ressaltado nesse e-mail, de que, mesmo em precárias condições, o atendimento dos funcionários sempre se realizou de maneira satisfatória, entre as dificuldades listadas nesse artigo, acrescente-se, nesse caso, a insegurança do entorno do arquivo – lugar de aparência abandonada e próxima a comunidades com altos índices de marginalidade.
A medida pegou de surpresa muitos pesquisadores, que tem prazos a cumprir. A situação do arquivo realmente é bastante difícil; diria até calamitosa, pelo que foi exposto a poucos dias em reportagem televisiva; mas, o interesse político em solucionar a questão é ainda irrelevante quanto à urgência em manter o acervo disponível e em condições de conservação e consulta.
A História está interditada nesse lugar; mas que seja momentâneo, e, para isso, devemos reagir para colocá-la em movimento o quanto antes.
2 comentários:
Zélia, estou por aqui mais uma vez! =D
Pois é, infelizmente o arquivo está interditado.. "novamente"! Digo isso porque em fevereiro do ano passado enquanto pesquisava no anexo da rua imperial eu e mais alguns pesquisadores recebemos a notícia de que o arquivo ficaria interditado para uma “reforma”.. não fiquei muito preocupado pois já estava na fase de conclusão da pesquisa, mas os outros pesquisadores foram bastante prejudicados.
Gostaria de saber até quando “os governos” do Estado de Pernambuco continuarão com esse descaso com os pesquisadores e com a história da nossa terra, da nossa gente. O arquivo público precisa cuidados, de mais pessoas capacitadas, que zelem pelos documentos.
Se não me engano existe um projeto para que o arquivo seja transferido para o prédio do Diário de Pernambuco. Se acontecer será ótimo, visto que é um lugar mais centralizado e talvez com melhores condições de armazenamento.
E concordo com você, devemos reagir, para que a História não fique interditada, estagnada nesse lugar!
Abraços colega!
Um ótimo final de semana pra você! =D
Caro Luiz, a situação é inquietante; o prédio do Diário de Pernambuco já foi adquirido, contudo; não sei se estão fazendo as alterações necessárias para abrigar o acervo, mas, se estiverem, a obra está mais lenta do que tartaruga; quando o acervo for tansferido, a demora, certamente, será para abrir as portas,depois, Deus é quem sabe...
Grata por sua participação.
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