quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os 300 Anos de Emancipação do Recife

No dia 19 de novembro de 2009 o Recife completará 300 anos de elevação à categoria de Vila, condição que lhe concedia o direito de erguer seu pelourinho, símbolo máximo da municipalidade e administração própria. O pelourinho foi erguido no dia 15 de fevereiro de 1710, "às escondidas" porque a Câmara de Olinda desaprovava a emancipação do Povoado dos Arrecifes. Os olindenses insatisfeitos revoltaram-se contra a Carta Régia expedida, invadiram o Recife, derrubaram o pelourinho e ainda atentaram contra o governador da provincia, Sebastião Castro e Caldas, que fugiu com a família para a Salvador. Ficou o Bispo, Dom Manuel Alvares da Costa, responsável por Pernambuco, mas sem força para ir contra os olindenses. A Guerra dos Mascates, como ficou conhecido o conflito, pois os recifenses reagiram, só foi resolvida com a chegada do novo governador, Félix José Machado de Mendonça, que perdoou todos os envolvidos no conflito, mas passou a hostilizar os olindenses. O governador, então, sofreu um atentado, o que provocou mais perseguições. Um tribunal com três juízes portugueses foi instalado para punir os líderes do movimento em outubro de 1711. Réus condenados, bens confiscados, Recife ganha as simpatias da Coroa; e fez-se, então, cumprir a Carta Régia com o pelourinho do Recife sendo reerguido em 08 de outubro de 1711. Em linhas gerais essa é a história do Recife de fato; do Município do Recife. Todo ano comemoramos junto com Olinda uma data incerta como aniversário do Recife, o 12 de março de 1537. O povoado dos Arrecifes, no entanto, surgiu aos poucos, não há um marco exato para o seu surgimento, mas sim a data de sua primeira menção num documento, o Foral de Olinda.
Apesar de toda essas histórias, nem a Câmara do Vereadores, nem a Prefeitura anunciaram nada de significativo para comemorar os 300 anos de existência do Município do Recife. E olha que não foi uma emancipação qualquer, mas envolveu toda uma disputa, uma luta pelo direito de autonomia. Algo bem reincidente na história dessa cidade, haja vista a luta que o Recife promoveu entre 1945-1950 para ter o direito de eleger o seu prefeito; pois, apesar da dita redemocratização pós-Estado Novo e pós-guerra, o Recife foi considerado base militar, portanto sem direito de eleger os seus representantes no Executivo; a estratégia, no entanto, era evitar que Recife elegesse um comunista como prefeito, pois a Câmara eleita em 1947 tinha sua maioria de comunistas, inclusive uma mulher, a líder têxtil: Júlia Santiago da Conceição.
Acredito, que o melhor presente que a Câmara do Recife e a Prefeitura possa oferecer para a Cidade é instalar o seu acervo documental em prédio próprio, de maneira adequada e com pessoal responsável e especializado. O arquivo da Câmara, localizado na rua Princesa Isabel, entre a rua da União e a rua da Saudade (não há placa indicativa), infelizmente encontra-se em precárias e insalubres condições: compartilha espaço com o almoxarifado, sem ar condicionado, muita coisa entulhada sem cuidado, e, segundo uma funcionária, apesar da aplicação de veneno, à mercê de ratos, escorpiões e outros seres da poeira e de ambientes mal arrumados. A última vez que estive no arquivo da Câmara (set/out 2008), o ambiente mais organizado, o quarto que abriga os livros encadernados de atas e leis mais antigos (até a década de 90, mais ou menos) estava repleto de caixas empilhadas de material do almoxarifado - portanto, dinheiro público que deve ser preservado - impedindo o acesso do pesquisador aos livros, apenas uma parte era alcançável. Muitas histórias, 300 anos de histórias do Recife estão abandonadas nesse lugar. Os historiadores ainda têm muito o que contar...

2 comentários:

severino Vicente da Silva disse...

Qaue beleza Zélia. tomara que muita gente leia e descubra o que tem acontecido com essa cidade que vive pensando em ser amsterdã,pois de Veneza, dizem, tem cada vez mais o perfume.
Mas, digo um verso escrito em agosto de 1973: Recife, minha ilha de água doce, está ficando amargo de te ver hoje. Era o tempo da ditadura, agora é tempo de dureza diferente, mas qeu destrói o Recife.

Luiz Santos disse...

Também gostaria de comentar nesta postagem! =D

Realmente, não se fala na comemoração da elevação do Recife à Vila. E confesso que não tinha pensado nesse fato! hehehe

Zélia, pra mim esse texto é uma verdadeira aula de História. E agradeço por deixar os pesquisadores e estudantes cientes da realidade dos arquivos dessa cidade!

Abraço =D