segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Morro da Conceição

Oito de dezembro é dia de subir o morro no Recife. Subir o morro tem um quê ritualístico. É um momento de confronto, de reflexão sobre o ano vivido, sobre as esperanças que ainda alimentamos ou desejamos alimentar. Só quem já viveu a experiência sabe o que é subir o morro caminhando - não de carro - em direção ao altar de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Tantas coisas perdem a importancia, e outras ganham outros significados. Para subir o espírito deve estar preparado, porque as possibilidades de se aborrecer ou ter momentos desagradáveis são muitas; mas, pra quem enfrenta uma multidão frevando no carnaval nas ruas estreitas de Olinda, acompanhar uma multidão rezando, pagando penitencia ou simplesmente seguindo em direção à Santa não tem muita diferença.
Atualmente as ruas são asfaltadas, até certo ponto limpas, as moradias são mais organizadas, caiadas, pintadas, o problema que ainda persiste é a falta de saneamento. Nas trilhas do morro encontramos ambulantes, barracas, pedintes. É impressionante o número de pedintes; a situação em que eles se instalam nos corredores da fé nos força a refletir; crianças, muitas crianças, das mais variadas idades, expostas a calor, as vezes, à chuva (é raro chover nesse dia) e a ausência de quase tudo. A Prefeitura do Recife nos últimos anos vem tentando colocá-las longe da mendicancia dos pais, mas não é fácil. Esse ano temos a ação mais direta da Justiça, e, assim, veremos se há resultados.
O Morro nem sempre foi assim. Aquela região foi paulatinamente ocupada; e alvo de disputa de propriedade. O processo de apropriação foi mais intenso a partir de meados da década de 40. A campanha contra os mocambos empreendida pelo interventor Agamenon Magalhães tanto expulsou para os morros aqueles que moravam nos mocambos e antigos sobrados do centro da cidade, quanto atraiu famílias do interior do estado pela ilusão de que o governo estava dando casas. Na realidade, a substituição dos mocambos pelas vilas populares não atingiu a mesma proporção; o governo preferia, na verdade, dá a passagem de retorno ao interior para aqueles que nos jornais eram chamados de "famílias desajustadas". Quem preferiu ficar foi povoar os morros circunvizinhos à planície recifense. E assim Casa Amarela se desenvolveu, e quando a Câmara dos Vereadores do Recife voltou a atuar em 1947, diversos vereadores trabalharam para fornecer infraestrutura; basicamente: água, energia, calçamento e transportes para essa região.

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