Dia do Trabalhador; entretanto, o dia é mais lembrado, e registrado em calendários, como o Dia do Trabalho. Percebe-se uma diferença: uma coisa é o trabalho, outra coisa é quem o executa, ou seja, o trabalhador. O trabalho - a atividade física e mental que requer energia para realizar algo - é algo inerente à própria existência humana; em maior ou menor escala, desde o esforço para atender a necessidade mais básica até a mais complexa; sendo assim, é uma atividade que pode ser mensurada partindo da energia física e da complexidade mental que é exigida. A partir desse ponto temos o trabalhador, que tem que enveredar em outros esforços para ter o reconhecimento justo de sua atividade, comumente, remunerada.
O trabalho pode ser categorizado de diversas maneiras, mas podemos restringir aqui como remunerado e sem remuneração. No entanto, é bom sempre lembrar que é uma atividade própria da natureza humana. Os seres humanos trabalham para sobreviver e para manter seus luxos. Luxo esse que acompanha os avanços científicos e tecnológicos gerados por quem trabalha.
Dignificar o trabalho é uma preocupação constante dos poderes constituídos, porque trabalhar é esforço, muitas vezes chato, estressante, desgastante, mas necessário. Numa sociedade como a nossa: ocidental e capitalista; o trabalho muitas vezes é vítima daqueles que exercem suas atividades no ramo dos prazeres efêmeros; uma contradição: pessoas trabalham para que outras apenas vivam (ou adoeçam, ou morram) de prazer. E surgem outras questões: prazer é trabalho? Ou dá trabalho?
Hoje também é o dia de lembrar a morte de uma das figuras mais emblemáticas não só para o Brasil, mas para o mundo: Ayrton Senna. Alguém que com seu trabalho, seu exemplo de vida, sensibilizou tantas pessoas e hoje é visto por muita gente como um herói. Muito disso é uma produção mídiática, mas é saudável. Ayrton Senna é emblema de esforço, trabalho, seriedade, persistência, sucesso e simpatia. Uma pessoa carismática que soube conquistar a todos porque ofereceu um referencial de sucesso.
No entanto, não podemos deixar que a mídia Global esqueça que o Primeiro de Maio é celebrado não por Ayrton Senna – ele acrescenta, não exclui -, e sim em memória dos anônimos operários mortos, agredidos e desrespeitados no confronto de 1886, em Chicago, nos EUA (por sinal, essa data não é celebrada lá); que essa data foi instituída internacionalmente num Congresso de Partidos Socialistas no centenário da Revolução Francesa, em 1889. No Brasil foi motivo de reflexão e dia de luta operária desde 1900, quando trabalhadores de Santos, em São Paulo, fundaram a Sociedade Primeiro de Maio; e, em 1919, 50 mil operários se reuniram na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, para reivindicar oito horas diárias de trabalho.
No Recife, diz o professor Antonio Paulo Rezende no artigo “As Primeiras Idéias Socialistas em Pernambuco” (um artigo relacionado a seu trabalho de mestrado, e que inicialmente compôs os Cadernos de História nº 1, do Departamento de História da UFPE, em 1987; e recentemente foi publicado numa edição da Clio, revista da pós-graduação em História, não recordo o nº, 2006/7?):
“Como funcionava, então, o Centro Protetor dos Operários em Pernambuco? Era, na verdade, antes de tudo um propagandista do socialismo. Nele eram realizadas várias conferências e as comemorações do 1º de Maio. Foi também o fundador do Jornal Aurora Social, no dia 01/05/1901, e que circularia até 1907,[...]”
Até a década de 30, o Primeiro de Maio era uma data de identificação do trabalhador operário urbano, das fábricas; a celebração se transforma com Getúlio Vargas: o foco se desvia do trabalhador para o trabalho, dia de louvação ao trabalho, e a celebração é concentrada em grandes estádios e áreas públicas, com os alto-falantes e rádios ligados, para ouvir o pronunciamento do Presidente Vargas; pois, nesse momento, o trabalhador poderia ser premiado pelo seu bom comportamento com novas leis, decretos, medidas, construções e o tão esperado aumento do salário-mínimo, daí a data-base de muitas categorias até pouco tempo ser o dia Primeiro de Maio; com a mudança para fevereiro desatrelou-se o significado.
Hoje, a idéia de trabalhador se amplia e diversifica; extrapola o ser operário de fábrica, apesar da representação estar muito associada ao urbano; mas foi daí que todo direito conquistado começou: da luta, do suor e do sangue dos proletários organizados, desfraldando bandeiras, geralmente, socialistas; enfrentando clandestinamente a falta de liberdade.
Primeiro de Maio é tempo de lembrar, de homenagear quem lutou e de buscar sempre melhorar as condições de vida e de trabalho de todos. Fazer festa é bom, mas sabendo o que está sendo festejado, sempre há o que festejar; contudo, também ainda há muito o que conquistar.
Proletários, uni-vos!
Companheiros e companheiras, vamos à luta! (com as armas que a democracia nos oferece).
[Observem também o texto do professor Severino Vicente, no blog http://biuvicente.blogspot.com/ ; ele conta sobre sua experiência na, JOC, Juventude Operária Católica, e sobre as dificuldades cotidianas que os moradores do bairro de Nova Descoberta enfrentavam no seu tempo de menino. A questão dia do trabalho e dia do trabalhador está bem abordada.]
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